Guido Mantega parecia levitar no instante em que escalou, nesta quarta (15), os dois degraus que levam ao púlpito de entrevistas do Palácio do Planalto.
O ministro da Fazenda estava ávido por compartilhar com os repórteres uma informação que acabara de repassar a Dilma Rousseff.
"Pela primeira vez na história, o risco Brasil é menor que o risco dos Estados Unidos", disse Mantega.
O ministro celebrava um índice que mede o custo do seguro sobre títulos soberanos dos países. Chama-se CDS (Credit Default Swaps).
Na véspera, o CDS do Brasil para os títulos com prazo de um ano fechara abaixo do índice atribuído aos papéis dos EUA: 39.974 pontos contra 40.349 pontos.
Horas depois da celebração de Mantega, os operadores do mercado já eram submetidos a dados que atenuavam o júbilo do ministro.
Às 13h10 desta quarta-feira, o CDS do papelório brasileiro era de 40.701 pontos, ligeiramente acima dos 40.481 pontos atribuídos aos títulos americanos.
Para os papéis de cinco anos, menos sujeitos a oscilações, a taxa de risco do Brasil superava a dos EUA em 59,3 pontos.
O que ele não disse:
Quem olha para Washington percebe que Mantega brinca com fogo. Sapateia sobre um cenário que deveria inspirar preocupação, não festejos.
Por que oscila o risco da dívida americana?, eis a pergunta que deve ser feita. Deve-se a oscilação a uma situação inusitada.
O governo dos EUA está na bica de atingir o seu limite máximo de endividamento. Para continuar honrando os seus títulos, a Casa Branca depende do Congresso.
Cabe aos congressistas autorizar a elevação do nível de endividamento do país. E os republicanos, rivais do democrata Obama, envenenam o pudim.
Envoltos numa atmosfera de campanha presidencial, os republicanos ameaçam negar a Obama a autorização para elevar o grau de endividamente.
Materializando-se a ameaça, o mundo testemunharia o inimaginável: os EUA ficariam sem condições de rolar sua dívida a partir de agosto.
Prevalecendo o inimaginável, a economia mundial caminharia para o imponderável. E o CDS, indicador celebrado por Mantega perderia o sentido.
Assim, o esforço do ministro para demonstrar que o Brasil que o brasileiro vê é outro país, mais pujante que a maior potência do planeta, vale o que parece: nada.
Ao comemorar o risco de os EUA caminharem para a breca , Mantega solta fogos à beira do abismo.
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