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sábado, 7 de maio de 2011

Feliz Dias das Mães



Minha Mãe não aceitava eu não comer tudo que estava no prato. Tinha que deixar limpo. Colocou tem que comer. Vivíamos com grande dificuldade e eu nem imaginava que aquelas palavras significavam , muitas vezes, que o colocado no meu prato podia faltar no dela.

Não aceitava desculpas do tipo 'Se os outros podem ir, por que eu não posso?'.
Ela respondia: 'Os outros não são meus filhos'. Numa época que não havia celular, o filho não chegar podia significar tudo, onde não deixar sair algumas vezes era o exercício da sabedoria. Sempre fui muito obediente e aceitava. Ela mandava com carinho, doce, mas não aceitava ser desobedecida nem contrariada.

Eu era o caçula dos filhos, portanto ficar longe dela era insuportável. Um dia ela foi visitar a irmã em Copacabana e devia voltar as seis horas da noite. O ponto final do ônibus que ela voltaria ficava perto da minha casa. Na hora marcada fui para lá e sentei no meio fio esperando. E ela não chegava e o tempo passava. Achei que ela não ia voltar mais e que tinha me deixado. Foi o maior sofrimento da minha vida. Eu tinha 8 anos, idade atual da minha neta. Às dez horas, ela que tinha saltado um ponto antes para fazer algumas compras estava desesperada por não ter me encontrado em casa. Minhas irmãs resolveram me procurar por todo o bairro e quando me viram sentadinho no meio fio chorrando, não tiveram coragem de brigar comigo e entenderam meu sofrimento. Quando Deus a levou lembrei desse dia e vi o quanto ia ser doloroso viver sem ela.




Minha Mãe adorava ouvir o barulho da fechadura quando eu chegava. Fazia aquela cara de tranquila mas hoje eu sei o como devia estar sofrendo com minhas noites pelo mundo.

Minha Mãe tinha cheiro de banho, de sabonete, talco, ela adorava talco, ela era gordinha e o talco no calor do Rio devia dar algum conforto. Me lembro dela como se tivesse acabado de sair do banho.

Não sei dizer quantas vezes fizemos bolo juntos. Eu chegando perguntando se tinha bolo e ela dizendo - não tem mas eu faço rapidinho. E ficávamos horas na cozinha conversando e esperando o bolo ficar pronto. A cozinha dela era ao mesmo tempo sala de visitas, confessionário e até onde se fazia comida. Ela cozinhava divinamente, mas eram as coisas mais simples que se tornavam inesquecíveis. Ela fazia uma carne moída que simplesmente eu nunca mais comi  na minha vida.
 Minha Mãe ficava assustada quando via o caso de algum menino que tinha sumido. Naquela época acontecia muito. Certa vez fomos à praia de Copacabana . Toda a família, menos um mico que eu tinha e que todos odiavam, inclusive ela. Sentamos na barraca e ela "determinou"que eu não podia sair de perto. Só que eu resolvi ir comprar um picolé sem falar com ninguém. Lógico que me perdi e fui resgatado horas depois por uma senhora caridosa. Tomei uma surra que minha orelha quase caiu de tanto ser torcida. Naquela época torcer orelha de filho rebelde não era motivo para levar os pais para a delegacia do menor. Era cuidado, desespero pelo que podia ter acontecido, lição para ser aprendida. Nunca bati nos meus filhos, mas agradeço as palmadas que levei merecidamente, acho que até escapei do pior graças a elas.

 
Minha Mãe  adorava escutar rádio durante o dia e novela pela TV durante a noite. Sabia de tudo que estava acontecendo no mundo. Ela me contava o que tinha ouvido e ia me explicando através da notícia o mundo que eu ia enfrentar. 
 
  
Minha Mãe tinha sonhos,  pressentimentos que sempre respeitei e que foi herdado por minha filha, tinha sexto sentido, sétimo, oitavo, nono, décimo. 

Um dia me contou seu casamento com meu pai, suas viagens pelo Brasil (cada filho nasceu num estado), sua infância rica (até os 10 anos eram as empregadas que a vestiam) e como teve que enfrentar toda a família para casar com um tenente do exército pobre. Ela contava com muito orgulho como tinha casado apaixonada por meu pai. 
  
  
Minha Mãe era muito, mas muito religiosa, tanto que aos invés dela ir visitar o padre e as freiras eram eles que vinham à nossa casa para visitá-la. Ajudou muita gente, ora rezando ora aconselhando. Sua bondade fazia que suas orientações fossem por todos acatadas.


Minha Mãe acreditava que eu era maravilhoso. O melhor filho do mundo. Eu até que não era dos piores, mas hoje vejo o quanto faltou dar por tanto que recebi.

  
Minha Mãe de gordinha virou magrinha. Foi ao médico e ele mandou emagrecer 40 quilos. Eu gostava dela gordinha, mas ir contra o médico não dava. Passou a comer café com leite;  bolacha de água e sal; e banana cozida. Mesmo assim ainda fazia as melhores comidas para os outros e  me preparava um pedaço de bolo para o colégio.   Minha Mãe deve ter sido igual a tantas outra, mas para mim era maravilhosa.


Eu morei muitos anos longe dela. Fico imaginando o quanto esperou o telefone tocar; a campainha tocar; eu entrar pela casa e dar mil beijos nela. Esperava o  carteiro; naquela época não tinha e-mail. Eu devia ter feito mais. Eu tenho a sensação de que sempre podia ter sido melhor. Um dia fui ao Rio, deixei a mala na portaria e pedi ao Sr. Manoel, zelador, que avisasse que eu tinha chegado e que depois falava com ela. Como eu fui egoísta, o que poderia ser tão importante que não podia esperar uma subida de elevador. Mas certamente ela perdoou e esperou eu voltar, sempre doce.
 
Minha Mãe me amava. Toda mãe ama o filho, mas eu acho que ela me amava um pouquinho mais do que aos outros. Sempre acreditei nisso.
   
É isso, são só palavras e muita saudade. 

Feliz Dia das Mães  e em especial para minha Rosanne , mãe de dois filhos maravilhosos e avó de quatro crianças que adoro (já adoro 4). Mãe de aço e mel, que soube criar e dar aos seus filhos todos os motivos para sentirem muito orgulho dela. Para a  Fernanda que com bravura vem enfrentando todos os obstáculos para dar aos seus dois filhos um mundo lindo. Para a  Claudia que além de um já tão querido vai em breve  dobrar a magia  de ser mãe.