Nos últimos dias tivemos em destaque na imprensa as seguintes notícias:
-1) A presidente brasileira, Dilma Rousseff, chegou nesta segunda-feira a Pequim em sua primeira viagem oficial com o objetivo de aumentar o comércio bilateral com a China.
2)A empresa Foxconn , investirá US$ 12 bilhões no Brasil nos próximos cinco anos para produzir displays (telas), A empresa também anunciou que montará iPads em território brasileiro a partir de novembro.
-3)A Apple vai montar no Pais seus produtos, iniciando pelo iPad, já tendo enviado ao país os primeiros lotes de componentes para sua montagem local. Um carregamento com componentes já está a caminho em contêineres embarcados a partir da China, que hoje concentra a fabricação dos produtos Apple. A previsão de chegada é de até dois meses.
Agora vamos à análise dessas 3 notícias e o que não foi dito claramente pela imprensa. A verdade é que este acordo e o sonho de termos iPads mais baratos por aqui, aumento de emprego de mão de obra, pagamento de impostos, etc, é uma visão parcial da questão e precisa ser melhor avaliada. Se o investimento de US$ 12 bilhões prometido pela Foxconn para produzir telas de cristal líquido no Brasil se concretizar, o país terá que importar da China uma série de commodities com o preço absurdamente em alta no mercado internacional: as terras-raras. A China não está concordando com essa transferência de produção para o Brasil por nada. A China é praticamente o único produtor mundial de terras-raras, --provavelmente poucas são as pessoas comuns que sabem o significado dessa palavra--, são 17 produtos minerais utilizados para aplicação em alta tecnologia, como a dos ímãs que transformam energia elétrica em energia mecânica, em produtos high tech como notebooks, telefones celulares, trens-bala, iPods/iPad/iPhone, fibras óticas e painéis solar na fabricação de produtos de alta tecnologia e inclusive, nos produtos que a Foxconn se propõe a produzir no país.
A China é responsável por 99% da produção mundial de terras-raras e tem cerca de mais de dois terços das reservas globais. Custosos de extrair e com reservas globais limitadas, o preço individual destes metais tem se valorizado vertiginosamente no mercado internacional.
Agora vejam como são as práticas comerciais com os chineses, aqueles que o Brasil endossou junto à OMC como praticante do livre comércio. Esse conjunto de metais, minerais e óxidos ficaram sob os holofotes no ano passado após o Japão ter confrontado a China por conta de uma disputa sobre direitos de pesca. Quando os japoneses prenderam um capitão de barco chinês, a China, em represália, impôs um embargo nas exportações de terras-raras para o Japão. Tal medida quase quebrou o parque industrial japonês, só tendo sido contornado pela interferência dos Estados Unidos que ameaçou os chineses com severas medidas comerciais de importação. O significado da palavra estratégico ficou muito claro em 2010, quando a China anunciou que imporia cotas de exportação destas terras raras, jogando os preços para o céu. O disparo dos preços foi extremo. Por exemplo, em 30 de março deste ano, o preço do neodímio metálico, um dos 17 elementos terra rara, foi cotado na Ásia em U$ 200 o quilo, enquanto em janeiro de 2009 estava em R$ 15 o quilo. 'É esta a forma como negociam.
Atualmente, a balança comercial sino-brasileira é marcada pela predominância de commodities no lado das exportações brasileiras para a China (esses perfeitamente substituíveis) e de produtos industrializados nas exportações chinesas para o Brasil. Se der certo, o investimento na Foxconn elevará de forma perigosa a dependência brasileira de terras-raras e mudará essa equação. Em comércio internacional não tem país bonzinho montando fábrica no país dos outros por nada. Muito menos os chineses. Será que o Brasil está preparado para essa dependência? Não faço a menor ideia. Espero que esteja.
fonte:Folha.com/Globo.com./G1/wikipedia-pt