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quarta-feira, 19 de junho de 2013

Queridos leitores. No mês passado tivemos o seguinte movimento no blog:
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  Não sei para vocês, mas acho muita gente vendo um simples blog de notícias sobre Apple, internet e algumas coisinhas mais. Portanto, em vista dos últimos acontecimentos no País, não podemos deixar de registrar alguma coisa a rspeito. Minha opinião sobre tudo coincide perfeitamente com a crônica da Mirian Leitão de hoje no Globo. Transcrevo abaixo. O título diz tudo:
 
Enviado por Míriam Leitão -
19.06.2013

COLUNA NO GLOBO

É preciso ouvi-los

Um surto de manifestação como o que se espalhou pelo Brasil nos últimos dias nunca tem uma explicação simples. É preciso humildade para admitir que ele não está inteiramente compreendido. Existem pistas. Ele tem a vantagem de quebrar a convicção de que o brasileiro suportaria todo o desaforo sem reagir: da deterioração dos costumes políticos ao desconforto econômico. Os políticos tinham certeza que num mês de Copa das Confederações o país estaria só pensando em futebol, ainda mais que a seleção ganhou do Japão por 3 x 0. Grande engano. O futebol foi mais um motivo para os jovens acharem que seus sonhos estavam sendo roubados. Os gastos com os estádios, nenhuma melhoria nas cidades é coisa de quem não acreditava no destino. Só para termos um exemplo da falta de vergonha. Em Brasília os pacientes que estavam na UTI do maior hospital da cidade foram transferidos para cidade satélites para ficarem vagos os leitos e à disposição da FIFA durante o jogo realizado na cidade.
Há razões conjunturais e outras mais antigas para justificar qualquer manifestação de protesto no Brasil. A inflação está alta há muito tempo, o nível de inadimplência cresceu e isso eliminou o amortecedor que o crédito vinha exercendo (nuncanahistoriadestepaís-como diz aquele outro se comprou tanto eletro doméstico), o desemprego de jovens chega a quase 16% em São Paulo. No início da nova legislatura, o Congresso escolheu, para presidentes das duas Casas, líderes e integrantes de comissões que foram vistos como um acinte pela população. A lista com 1,3 milhão de assinaturas coletadas em tempo recorde contra Renan Calheiros na presidência do Senado foi ignorada com desprezo.
O mamútico governo federal, montado com 39 ministérios-será que a Dilma consegue dizer de cabeça o nome de todos os ministérios e seus ministros? Duvido- (no governo FHC tínhamos 25), faz anúncios sequenciais de planos que não se transformam em realidade (vocês se lembram da transposição do Rio São Francisco, pois é, ninguém mais fala nisso). Em cada pronunciamento de sua campanha eleitoral antecipada , a presidente Dilma desenha um país cor de rosa onde tudo está resolvido, exceto por alguns da "turma do contra". Ontem, ela elogiou o movimento das ruas. Falta só agora conciliar o elogio aos protestos com a sua visão de que o governo faz tudo certo, que o país vai muito bem, e só os que torcem pelo pior é que não reconhecem.
O movimento é heterogêneo, apartidário, sem lideranças claras. As reivindicações são muitas. Como em qualquer onda de descontentamento, há sempre um estopim. Desta vez foi o aumento da tarifa de ônibus, que havia sido adiado. Mas o estopim é só isso: a gota que transborda o copo já cheio pelos desaforos diários.
O Brasil sofre uma aguda crise de representação política. Nossa democracia envelheceu precocemente pela repetição do jogo dos conchavos, pelas escolhas erradas para cargos importantes, pela mesmice de oligarquias que controlam partes da federação e nacos da administração pública.
Ainda que o protesto seja contra políticos em geral, e todos devem pôr suas barbas de molho, é preciso ponderar um fenômeno recente. O governo do PT cooptou a maioria das organizações de representação da sociedade civil. Sindicatos e centrais sindicais, algumas ONGs, movimento estudantil, e até o Movimento dos Sem-Terra, recebem recursos federais e ficam na órbita do governo. Já não representam os interesses dos representados.
A UNE (que estampa em seu site um log da Caixa Econômica Federal) acaba de eleger sua nova presidente. Mais uma vez não se sabe como foi a escolha, mas já se sabia de antemão que seria do PCdoB. Como tem sido por décadas. Há muito tempo a UNE deixou de justificar o nome e virou um feudo do partido da base governista. É plataforma de lançamento do partido.
Na economia, a inflação de alimentos está em 13,5% e tem estado persistentemente em níveis altos, a de serviços está em 8,51%, as famílias já comprometem quase um quarto da sua renda mensal com o pagamento de dívidas. O desemprego de jovens tem índices de 12,6% no Rio, 15,9% em São Paulo e 17,4% em Salvador. Nada disso é novo, mas o torniquete foi rodando. Famílias com ambições recentes alimentadas pela abundância do crédito já sentem o efeito colateral da inadimplência.
Para a imprensa, o desafio é enorme diante de tantas demonstrações de protesto. O maior erro dos jornalistas e das pesquisas de opinião foi não ter percebido o avanço do descontentamento.
Mas, se nessa pilha de motivos para a insatisfação fosse necessário escolher um, talvez o mais acertado seja essa sensação de falta de representação, divórcio mesmo entre os governantes e os brasileiros. Movimentos como esse produzem alguns excessos, mas sempre fortalecem a democracia. É preciso ouvi-los, logo, antes que se perca o controle da situação. Lembrete: Dilma ganhou com 51% dos votos, temos portanto, no mínimo 49% contra. Dizia um cartaz: Pai acorda, foi para isso que vocês fizeram Diretas Já? Digo eu: Senti vergonha de não estar lá.